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Exibindo 1434 questões

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INF1860

Português

      O nome do inseto pirilampo (vaga-lume) tem uma interessante certidão de nascimento. De repente, no fim do século XVII, os poetas de Lisboa repararam que não podiam cantar o inseto luminoso, apesar de ele ser um manancial de metáforas, pois possuía um nome “indecoroso” que não podia ser “usado em papéis sérios”: caga-lume. Foi então que o dicionarista Raphael Bluteau inventou a nova palavra, pirilampo, a partir do grego pyr, significando 'fogo’, e lampas, 'candeia’.

FERREIRA, M. B. Caminhos do português: exposição comemorativa do Ano Europeu
das Línguas. Portugal: Biblioteca Nacional, 2001 (adaptado).

O texto descreve a mudança ocorrida na nomeação do inseto, por questões de tabu linguístico. Esse tabu diz respeito à

recuperação histórica do significado.
ampliação do sentido de uma palavra.
produção imprópria de poetas portugueses.
denominação científica com base em termos gregos.
restrição ao uso de um vocábulo pouco aceito socialmente.

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INF1859

Educação Artística


      A origem da obra de arte (2002) é uma instalação seminal na obra de Marilá Dardot. Apresentada originalmente em sua primeira exposição individual, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, a obra constitui um convite para a interação do espectador, instigado a compor palavras e sentenças e a distribuí-las pelo campo. Cada letra tem o feitio de um vaso de cerâmica (ou será o contrário?) e, à disposição do espectador, encontram-se utensílios de plantio, terra e sementes. Para abrigar a obra e servir de ponto de partida para a criação dos textos, foi construído um pequeno galpão, evocando uma estufa ou um ateliê de jardinagem. As 1 500 letras-vaso foram produzidas pela cerâmica que funciona no Instituto Inhotim, em Minas Gerais, num processo que durou vários meses e contou com a participação de dezenas de mulheres das comunidades do entorno. Plantar palavras, semear ideias é o que nos propõe o trabalho. No contexto de Inhotim, onde natureza e arte dialogam de maneira privilegiada, esta proposição se torna, de certa maneira, mais perto da possibilidade.

Disponível em: www.inhotim.org.br. Acesso em: 22 maio 2013 (adaptado).

A função da obra de arte como possibilidade de experimentação e de construção pode ser constatada no trabalho de Marilá Dardot porque
o projeto artístico acontece ao ar livre.

o observador da obra atua como seu criador.

a obra integra-se ao espaço artístico e botânico.
as letras-vaso são utilizadas para o plantio de mudas.
as mulheres da comunidade participam na confecção das peças.

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INF1858

Português

Sem acessórios nem som

               Escrever só para me livrar
               de escrever.
               Escrever sem ver, com riscos
               sentindo falta dos acompanhamentos
               com as mesmas lesmas
               e figuras sem força de expressão.
               Mas tudo desafina:
               o pensamento pesa
               tanto quanto o corpo
               enquanto corto os conectivos
               corto as palavras rentes
               com tesoura de jardim
               cega e bruta
               com facão de mato.
               Mas a marca deste corte
               tem que ficar
               nas palavras que sobraram.
               Qualquer coisa do que desapareceu
               continuou nas margens, nos talos
               no atalho aberto a talhe de foice
               no caminho de rato.

FREITAS FILHO, A. Máquina de escrever: poesia reunida e revista.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.

Nesse texto, a reflexão sobre o processo criativo aponta para uma concepção de atividade poética que põe em evidência o(a)

angustiante necessidade de produção, presente em “Escrever só para me livrar/ de escrever”.
imprevisível percurso da composição, presente em “no atalho aberto a talhe de foice/ no caminho de rato”.
agressivo trabalho de supressão, presente em “corto as palavras rentes/ com tesoura dejardim/ cega e bruta”.
inevitável frustração diante do poema, presente em “Mas tudo desafina:/ o pensamento pesa/ tanto quanto o corpo”.
conflituosa relação com a inspiração, presente em “sentindo falta dos acompanhamentos/ e figuras sem força de expressão”.

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INF1857

Português

Galinha cega

      O dono correu atrás de sua branquinha, agarrou-a, lhe examinou os olhos. Estavam direitinhos, graças a Deus, e muito pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou mais milho. A galinha continuou a bicar o chão desorientada. Atirou ainda mais, com paciência, até que ela se fartasse. Mas não conseguiu com o gasto de milho, de que as outras se aproveitaram, atinar com a origem daquela desorientação. Que é que seria aquilo, meu Deus do céu? Se fosse efeito de uma pedrada na cabeça e se soubesse quem havia mandado a pedra, algum moleque da vizinhança, aí... Nem por sombra imaginou que era a cegueira irremediável que principiava.

      Também a galinha, coitada, não compreendia nada, absolutamente nada daquilo. Por que não vinham mais os dias luminosos em que procurava a sombra das pitangueiras? Sentia ainda o calor do sol, mas tudo quase sempre tão escuro. Quase que já não sabia onde é que estava a luz, onde é que estava a sombra.

GUIMARAENS, J. A. Contos e novelas. Rio de Janeiro: Imago, 1976 (fragmento).

Ao apresentar uma cena em que um menino atira milho às galinhas e observa com atenção uma delas, o narrador explora um recurso que conduz a uma expressividade fundamentada na
captura de elementos da vida rural, de feições peculiares.
caracterização de um quintal de sítio, espaço de descobertas.
confusão intencional da marcação do tempo, centrado na infância.
apropriação de diferentes pontos de vista, incorporados afetivamente.
fragmentação do conflito gerador, distendido como apoio à emotividade.

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INF1856

Português

Querido diário

      Hoje topei com alguns conhecidos meus
      Me dão bom-dia, cheios de carinho
      Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus
      Eles têm pena de eu viver sozinho
      [...]
      Hoje o inimigo veio me espreitar
      Armou tocaia lá na curva do rio
      Trouxe um porrete a mó de me quebrar
      Mas eu não quebro porque sou macio, viu

HOLANDA, C. B. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2013 (fragmento).

Uma característica do gênero diário que aparece na letra da canção de Chico Buarque é o(a)

diálogo com interlocutores próximos.
recorrência de verbos no infinitivo.
predominância de tom poético.
uso de rimas na composição.
narrativa autorreflexiva.