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Exibindo 1434 questões

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INF1870

Português

Receita

                       Tome-se um poeta não cansado,
                       Uma nuvem de sonho e uma flor,
                       Três gotas de tristeza, um tom dourado,
                       Uma veia sangrando de pavor.
                       Quando a massa já ferve e se retorce
                       Deita-se a luz dum corpo de mulher,
                       Duma pitada de morte se reforce,
                       Que um amor de poeta assim requer.

SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho, 1997.

Os gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estáveis e podem reconfigurar-se em função do propósito comunicativo. Esse texto constitui uma mescla de gêneros, pois

introduz procedimentos prescritivos na composição do poema.
explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita.
explora elementos temáticos presentes em uma receita.
apresenta organização estrutural típica de um poema.
utiliza linguagem figurada na construção do poema.

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INF1869

Português

De domingo

— Outrossim...
— O quê?
— O que o quê?
— O que você disse.
— Outrossim?
— É.
— O que é que tem?
— Nada. Só achei engraçado.
— Não vejo a graça.
— Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
— Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.
— Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira.
— Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”.
— “Ônus”.
— “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
— “Resquício” é de domingo.
— Não, não. Segunda. No máximo terça.
— Mas “outrossim”, francamente...
— Qual o problema?
— Retira o “outrossim”.
— Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.

VERISSIMO, L. F Comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).

No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso promove o(a)
marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias da semana.
tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em contextos formais.
caracterização da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela recorrência de palavras regionais.
distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras com significados pouco conhecidos.
inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por parte de um dos interlocutores do diálogo.

58

INF1868

Português

TEXTO I

      Entrevistadora— eu vou conversar aqui com a professora A. D. ... o português então não é uma língua difícil?

      Professora — olha se você parte do princípio... que a língua portuguesa não é só regras gramaticais. não se você se apaixona pela língua que você . já domina que você já fala ao chegar na escola se o teu professor cativa você a ler obras da literatura. obras da/ dos meios de comunicação. se você tem acesso a revistas. é... a livros didáticos. a... livros de literatura o mais formal o e/ o difícil é porque a escola transforma como eu já disse as aulas de língua portuguesa em análises gramaticais.

TEXTO II

      Entrevistadora — Vou conversar com a professora A. D. O português é uma língua difícil?

      Professora — Não, se você parte do princípio que a língua portuguesa não é só regras gramaticais. Ao chegar à escola, o aluno já domina e fala a língua. Se o professor motivá-lo a ler obras literárias, e se tem acesso a revistas, a livros didáticos, você se apaixona pela língua. O que torna difícil é que a escola transforma as aulas de língua portuguesa em análises gramaticais.

MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização.
São Paulo: Cortez, 2001 (adaptado).

O Texto I é a transcrição de uma entrevista concedida por uma professora de português a um programa de rádio. O Texto II é a adaptação dessa entrevista para a modalidade escrita. Em comum, esses textos
apresentam ocorrências de hesitações e reformulações.
são modelos de emprego de regras gramaticais.
são exemplos de uso não planejado da língua.
apresentam marcas da linguagem literária.
são amostras do português culto urbano.

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INF1867

Português

Qual é a segurança do sangue?

      Para que o sangue esteja disponível para aqueles que necessitam, os indivíduos saudáveis devem criar o hábito de doar sangue e encorajar amigos e familiares saudáveis a praticarem o mesmo ato.

      A prática de selecionar criteriosamente os doadores, bem como as rígidas normas aplicadas para testar, transportar, estocar e transfundir o sangue doado fizeram dele um produto muito mais seguro do que já foi anteriormente.

      Apenas pessoas saudáveis e que não sejam de risco para adquirir doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue, como hepatites B e C, HIV, sífilis e Chagas, podem doar sangue.

      Se você acha que sua saúde ou comportamento pode colocar em risco a vida de quem for receber seu sangue, ou tem a real intenção de apenas realizar o teste para o vírus HIV, NÃO DOE SANGUE.

      Cumpre destacar que apesar de o sangue doado ser testado para as doenças transmissíveis conhecidas no momento, existe um período chamado de janela imunológica em que um doador contaminado por um determinado vírus pode transmitir a doença através do seu sangue.

      DA SUA HONESTIDADE DEPENDE A VIDA DE QUEM VAI RECEBER SEU SANGUE.

Disponível em: www.prosangue.sp.gov.br. Acesso em: 24 abr. 2015 (adaptado).

Nessa campanha, as informações apresentadas têm como objetivo principal

conscientizar o doador de sua corresponsabilidade pela qualidade do sangue.
garantir a segurança de pessoas de grupos de risco durante a doação de sangue.
esclarecer o público sobre a segurança do processo de captação do sangue.
alertar os doadores sobre as dificuldades enfrentadas na coleta de sangue.
ampliar o número de doadores para manter o banco de sangue.

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INF1866

Literatura

Antiode

                Poesia, não será esse
                o sentido em que
                ainda te escrevo:
                flor! (Te escrevo:
                flor! Não uma
                flor, nem aquela
                flor-virtude — em
                disfarçados urinóis).
                Flor é a palavra
                flor; verso inscrito
                no verso, como as
                manhãs no tempo.
                Flor é o salto
                da ave para o voo:
                o salto fora do sono
                quando seu tecido
                se rompe; é uma explosão
                posta a funcionar,
                como uma máquina,
                uma jarra de flores.

MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).

A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de

uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.