ENEM - 2016 - INEP

N° de questões: 180

101

INF1846

Português

      O senso comum é que só os seres humanos são capazes de rir. Isso não é verdade?

      Não. O riso básico — o da brincadeira, da diversão, da expressão física do riso, do movimento da face e da vocalização — nós compartilhamos com diversos animais. Em ratos, já foram observadas vocalizações ultrassônicas — que nós não somos capazes de perceber — e que eles emitem quando estão brincando de “rolar no chão”. Acontecendo de o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro, o rato deixa de fazer essa vocalização e a brincadeira vira briga séria. Sem o riso, o outro pensa que está sendo atacado. O que nos diferencia dos animais é que não temos apenas esse mecanismo básico. Temos um outro mais evoluído. Os animais têm o senso de brincadeira, como nós, mas não têm senso de humor. O córtex, a parte superficial do cérebro deles, não é tão evoluído como o nosso. Temos mecanismos corticais que nos permitem, por exemplo, interpretar uma piada.

Disponível em: http://globonews.globo.com. Acesso em: 31 maio 2012 (adaptado).

A coesão textual é responsável por estabelecer relações entre as partes do texto. Analisando o trecho “Acontecendo de o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro”, verifica-se que ele estabelece com a oração seguinte uma relação de

finalidade, porque os danos causados ao cérebro têm por finalidade provocar a falta de vocalização dos ratos.
oposição, visto que o dano causado em um local específico no cérebro é contrário à vocalização dos ratos.
condição, pois é preciso que se tenha lesão específica no cérebro para que não haja vocalização dos ratos.
consequência, uma vez que o motivo de não haver mais vocalização dos ratos é o dano causado no cérebro.
proporção, já que à medida que se lesiona o cérebro não é mais possível que haja vocalização dos ratos.

102

INF1847

Português

      Mandinga — Era a denominação que, no período das grandes navegações, os portugueses davam à costa ocidental da África. A palavra se tornou sinônimo de feitiçaria porque os exploradores lusitanos consideravam bruxos os africanos que ali habitavam — é que eles davam indicações sobre a existência de ouro na região. Em idioma nativo, manding designava terra de feiticeiros. A palavra acabou virando sinônimo de feitiço, sortilégio.

COTRIM, M. O pulo do gato 3. São Paulo: Geração Editorial, 2009 (fragmento).

No texto, evidencia-se que a construção do significado da palavra mandinga resulta de um(a)

contexto sócio-histórico.
diversidade étnica.
descoberta geográfica.
apropriação religiosa.
contraste cultural.

103

INF1848

Português

TEXTO I

      Nesta época do ano, em que comprar compulsivamente é a principal preocupação de boa parte da população, é imprescindível refletirmos sobre a importância da mídia na propagação de determinados comportamentos que induzem ao consumismo exacerbado. No clássico livro O capital, Karl Marx aponta que no capitalismo os bens materiais, ao serem fetichizados, passam a assumir qualidades que vão além da mera materialidade. As coisas são personificadas e as pessoas são coisificadas. Em outros termos, um automóvel de luxo, uma mansão em um bairro nobre ou a ostentação de objetos de determinadas marcas famosas são alguns dos fatores que conferem maior valorização e visibilidade social a um indivíduo.

LADEIRA, F. F. Reflexões sobre o consumismo. Disponível em:
http://observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em: 18 jan. 2015.

TEXTO II

      Todos os dias, em algum nível, o consumo atinge nossa vida, modifica nossas relações, gera e rege sentimentos, engendra fantasias, aciona comportamentos, faz sofrer, faz gozar. Às vezes constrangendo-nos em nossas ações no mundo, humilhando e aprisionando, às vezes ampliando nossa imaginação e nossa capacidade de desejar, consumimos e somos consumidos. Numa época toda codificada como a nossa, o código da alma (o código do ser) virou código do consumidor! Fascínio pelo consumo, fascínio do consumo. Felicidade, luxo, bem-estar, boa forma, lazer, elevação espiritual, saúde, turismo, sexo, família e corpo são hoje reféns da engrenagem do consumo.

BARCELLOS, G. A alma do consumo. Disponível em: www.diplomatique.org.br.
Acesso em: 18 jan. 2015.

Esses textos propõem uma reflexão crítica sobre o consumismo. Ambos partem do ponto de vista de que esse hábito
desperta o desejo de ascensão social.
provoca mudanças nos valores sociais.
advém de necessidades suscitadas pela publicidade.
deriva da inerente busca por felicidade pelo ser humano.
resulta de um apelo do mercado em determinadas datas.

104

INF1849

Português

      Quem procura a essência de um conto no espaço que fica entre a obra e seu autor comete um erro: é muito melhor procurar não no terreno que fica entre o escritor e sua obra, mas justamente no terreno que fica entre o texto e seu leitor.

OZ, A. De amor e trevas. São Paulo: Cia. das Letras, 2005 (fragmento).

A progressão temática de um texto pode ser estruturada por meio de diferentes recursos coesivos, entre os quais se destaca a pontuação. Nesse texto, o emprego dos dois pontos caracteriza uma operação textual realizada com a finalidade de

comparar elementos opostos.
relacionar informações gradativas.
intensificar um problema conceitual.
introduzir um argumento esclarecedor.
assinalar uma consequência hipotética.

105

INF1850

Português

National Geographic Brasil, n. 151, out. 2012 (adaptado). 

Nessa campanha publicitária, para estimular a economia de água, o leitor é incitado a

adotar práticas de consumo consciente.
alterar hábitos de higienização pessoal e residencial.
contrapor-se a formas indiretas de exportação de água.
optar por vestuário produzido com matéria-prima reciclável.
conscientizar produtores rurais sobre os custos de produção.

106

INF1851

Português

      Até que ponto replicar conteúdo é crime? “A internet e a pirataria são inseparáveis”, diz o diretor do instituto de pesquisas americano Social Science Research Council. “Há uma infraestrutura pequena para controlar quem é o dono dos arquivos que circulam na rede. Isso acabou com o controle sobre a propriedade e tem sido descrito como pirataria, mas é inerente à tecnologia”, afirma o diretor. O ato de distribuir cópias de um trabalho sem a autorização dos seus produtores pode, sim, ser considerado crime, mas nem sempre essa distribuição gratuita lesa os donos dos direitos autorais. Pelo contrário. Veja o caso do livro O alquimista, do escritor Paulo Coelho. Após publicar, para download gratuito, uma versão traduzida da obra em seu blog, Coelho viu as vendas do livro em papel explodirem.

BARRETO, J.; MORAES, M. A internet existe sem pirataria?
Veja, n. 2 308, 13 fev. 2013 (adaptado).

De acordo com o texto, o impacto causado pela internet propicia a

banalização da pirataria na rede.
adoção de medidas favoráveis aos editores.
implementação de leis contra crimes eletrônicos.
reavaliação do conceito de propriedade intelectual.
ampliação do acesso a obras de autores reconhecidos.

107

INF1852

Português

      Em casa, Hideo ainda podia seguir fiel ao imperador japonês e às tradições que trouxera no navio que aportara em Santos. [...] Por isso Hideo exigia que, aos domingos, todos estivessem juntos durante o almoço. Ele se sentava à cabeceira da mesa; à direita ficava Hanashiro, que era o primeiro filho, e Hitoshi, o segundo, e à esquerda, Haruo, depois Hiroshi, que era o mais novo. [...] A esposa, que também era mãe, e as filhas, que também eram irmãs, aguardavam de pé ao redor da mesa [...]. Haruo reclamava, não se cansava de reclamar: que se sentassem também as mulheres à mesa, que era um absurdo aquele costume. Quando se casasse, se sentariam à mesa a esposa e o marido, um em frente ao outro, porque não era o homem melhor que a mulher para ser o primeiro [...]. Elas seguiam de pé, a mãe um pouco cansada dos protestos do filho, pois o momento do almoço era sagrado, não era hora de levantar bandeiras inúteis [...].

NAKASATO, O. Nihonjin. São Paulo: Benvirá, 2011 (fragmento).

Referindo-se a práticas culturais de origem nipônica, o narrador registra as reações que elas provocam na família e mostra um contexto em que

a obediência ao imperador leva ao prestígio pessoal.
as novas gerações abandonam seus antigos hábitos.
a refeição é o que determina a agregação familiar.
os conflitos de gênero tendem a ser neutralizados.
o lugar à mesa metaforiza uma estrutura de poder.

108

INF1853

Português

      Centro das atenções em um planeta cada vez mais interconectado, a Floresta Amazônica expõe inúmeros dilemas. Um dos mais candentes diz respeito à madeira e sua exploração econômica, uma saga que envolve os muitos desafios para a conservação dos recursos naturais às gerações futuras.

      Com o olhar jornalístico, crítico e ao mesmo tempo didático, adentramos a Amazônia em busca de histórias e sutilezas que os dados nem sempre revelam. Lapidamos estatísticas e estudos científicos para construir uma síntese útil a quem direciona esforços para conservar a floresta, seja no setor público, seja no setor privado, seja na sociedade civil.

      Guiada como uma reportagem, rica em informações ilustradas, a obra Madeira de ponta a ponta revela a diversidade de fraudes na cadeia de produção, transporte e comercialização da madeira, bem como as iniciativas de boas práticas que se disseminam e trazem esperança rumo a um modelo de convivência entre desenvolvimento e manutenção da floresta.

VILLELA, M.; SPINK, P In: ADEODATO, S. et al. Madeira de ponta a ponta: o caminho
desde a floresta até o consumo. São Paulo: FGV RAE, 2011 (adaptado).

A fim de alcançar seus objetivos comunicativos, os autores escreveram esse texto para

apresentar informações e comentários sobre o livro.
noticiaras descobertas científicas oriundas da pesquisa.
defender as práticas sustentáveis de manejo da madeira.
ensinar formas de combate à exploração ilegal de madeira.
demonstrar a importância de parcerias para a realização da pesquisa.

109

INF1854

Português

Disponível em: www.paradapelavida.com.br. Acesso em: 15 nov. 2014.

Nesse texto, a combinação de elementos verbais e não verbais configura-se como estratégia argumentativa para

manifestar a preocupação do governo com a segurança dos pedestres.
associar a utilização do celular às ocorrências de atropelamento de crianças.
orientar pedestres e motoristas quanto à utilização responsável do telefone móvel.
influenciar o comportamento de motoristas em relação ao uso de celular no trânsito.
alertar a população para os riscos da falta de atenção no trânsito das grandes cidades.

110

INF1855

Português

Pérolas absolutas

      Há, no seio de uma ostra, um movimento — ainda que imperceptível. Qualquer coisa imiscuiu-se pela fissura, uma partícula qualquer, diminuta e invisível. Venceu as paredes lacradas, que se fecham como a boca que tem medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora penetra o núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria substância. A ostra reage, imediatamente. E começa a secretar o nácar. É um mecanismo de defesa, uma tentativa de purificação contra a partícula invasora. Com uma paciência de fundo de mar, a ostra profanada continua seu trabalho incansável, secretando por anos a fio o nácar que aos poucos se vai solidificando. É dessa solidificação que nascem as pérolas.

      As pérolas são, assim, o resultado de uma contaminação. A arte por vezes também. A arte é quase sempre a transformação da dor. [...] Escrever é preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar a pérola que talvez seja imperfeita, que talvez jamais seja encontrada e viva para sempre encerrada no fundo do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da eternidade.

SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro. Rio de Janeiro: Record, 2009 (fragmento).

Considerando os aspectos estéticos e semânticos presentes no texto, a imagem da pérola configura uma percepção que
reforça o valor do sofrimento e do esquecimento para o processo criativo.
ilustra o conflito entre a procura do novo e a rejeição ao elemento exótico.
concebe a criação literária como trabalho progressivo e de autoconhecimento.
expressa a ideia de atividade poética como experiência anônima e involuntária.
destaca o efeito introspectivo gerado pelo contato com o inusitado e com o desconhecido.