ENEM - 2016 - INEP

N° de questões: 180

121

INF1866

Literatura

Antiode

                Poesia, não será esse
                o sentido em que
                ainda te escrevo:
                flor! (Te escrevo:
                flor! Não uma
                flor, nem aquela
                flor-virtude — em
                disfarçados urinóis).
                Flor é a palavra
                flor; verso inscrito
                no verso, como as
                manhãs no tempo.
                Flor é o salto
                da ave para o voo:
                o salto fora do sono
                quando seu tecido
                se rompe; é uma explosão
                posta a funcionar,
                como uma máquina,
                uma jarra de flores.

MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).

A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de

uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.

122

INF1867

Português

Qual é a segurança do sangue?

      Para que o sangue esteja disponível para aqueles que necessitam, os indivíduos saudáveis devem criar o hábito de doar sangue e encorajar amigos e familiares saudáveis a praticarem o mesmo ato.

      A prática de selecionar criteriosamente os doadores, bem como as rígidas normas aplicadas para testar, transportar, estocar e transfundir o sangue doado fizeram dele um produto muito mais seguro do que já foi anteriormente.

      Apenas pessoas saudáveis e que não sejam de risco para adquirir doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue, como hepatites B e C, HIV, sífilis e Chagas, podem doar sangue.

      Se você acha que sua saúde ou comportamento pode colocar em risco a vida de quem for receber seu sangue, ou tem a real intenção de apenas realizar o teste para o vírus HIV, NÃO DOE SANGUE.

      Cumpre destacar que apesar de o sangue doado ser testado para as doenças transmissíveis conhecidas no momento, existe um período chamado de janela imunológica em que um doador contaminado por um determinado vírus pode transmitir a doença através do seu sangue.

      DA SUA HONESTIDADE DEPENDE A VIDA DE QUEM VAI RECEBER SEU SANGUE.

Disponível em: www.prosangue.sp.gov.br. Acesso em: 24 abr. 2015 (adaptado).

Nessa campanha, as informações apresentadas têm como objetivo principal

conscientizar o doador de sua corresponsabilidade pela qualidade do sangue.
garantir a segurança de pessoas de grupos de risco durante a doação de sangue.
esclarecer o público sobre a segurança do processo de captação do sangue.
alertar os doadores sobre as dificuldades enfrentadas na coleta de sangue.
ampliar o número de doadores para manter o banco de sangue.

123

INF1868

Português

TEXTO I

      Entrevistadora— eu vou conversar aqui com a professora A. D. ... o português então não é uma língua difícil?

      Professora — olha se você parte do princípio... que a língua portuguesa não é só regras gramaticais. não se você se apaixona pela língua que você . já domina que você já fala ao chegar na escola se o teu professor cativa você a ler obras da literatura. obras da/ dos meios de comunicação. se você tem acesso a revistas. é... a livros didáticos. a... livros de literatura o mais formal o e/ o difícil é porque a escola transforma como eu já disse as aulas de língua portuguesa em análises gramaticais.

TEXTO II

      Entrevistadora — Vou conversar com a professora A. D. O português é uma língua difícil?

      Professora — Não, se você parte do princípio que a língua portuguesa não é só regras gramaticais. Ao chegar à escola, o aluno já domina e fala a língua. Se o professor motivá-lo a ler obras literárias, e se tem acesso a revistas, a livros didáticos, você se apaixona pela língua. O que torna difícil é que a escola transforma as aulas de língua portuguesa em análises gramaticais.

MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização.
São Paulo: Cortez, 2001 (adaptado).

O Texto I é a transcrição de uma entrevista concedida por uma professora de português a um programa de rádio. O Texto II é a adaptação dessa entrevista para a modalidade escrita. Em comum, esses textos
apresentam ocorrências de hesitações e reformulações.
são modelos de emprego de regras gramaticais.
são exemplos de uso não planejado da língua.
apresentam marcas da linguagem literária.
são amostras do português culto urbano.

124

INF1869

Português

De domingo

— Outrossim...
— O quê?
— O que o quê?
— O que você disse.
— Outrossim?
— É.
— O que é que tem?
— Nada. Só achei engraçado.
— Não vejo a graça.
— Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
— Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.
— Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira.
— Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”.
— “Ônus”.
— “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
— “Resquício” é de domingo.
— Não, não. Segunda. No máximo terça.
— Mas “outrossim”, francamente...
— Qual o problema?
— Retira o “outrossim”.
— Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.

VERISSIMO, L. F Comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).

No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso promove o(a)
marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias da semana.
tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em contextos formais.
caracterização da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela recorrência de palavras regionais.
distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras com significados pouco conhecidos.
inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por parte de um dos interlocutores do diálogo.

125

INF1870

Português

Receita

                       Tome-se um poeta não cansado,
                       Uma nuvem de sonho e uma flor,
                       Três gotas de tristeza, um tom dourado,
                       Uma veia sangrando de pavor.
                       Quando a massa já ferve e se retorce
                       Deita-se a luz dum corpo de mulher,
                       Duma pitada de morte se reforce,
                       Que um amor de poeta assim requer.

SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho, 1997.

Os gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estáveis e podem reconfigurar-se em função do propósito comunicativo. Esse texto constitui uma mescla de gêneros, pois

introduz procedimentos prescritivos na composição do poema.
explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita.
explora elementos temáticos presentes em uma receita.
apresenta organização estrutural típica de um poema.
utiliza linguagem figurada na construção do poema.

126

INF1871

Educação Artística

Espetáculo Romeu e Julieta, Grupo Galpão.

GUTO MUNIZ. Disponível em: www.focoincena.com.br. Acesso em: 30 maio 2016.

A principal razão pela qual se infere que o espetáculo retratado na fotografia é uma manifestação do teatro de rua é o fato de

dispensar o edifício teatral para a sua realização.
utilizar figurinos com adereços cômicos.
empregar elementos circenses na atuação.
excluir o uso de cenário na ambientação.
negar o uso de iluminação artificial.

127

INF1872

Português

O humor e a língua

      Há algum tempo, venho estudando as piadas, com ênfase em sua constituição linguística. Por isso, embora a afirmação a seguir possa parecer surpreendente, creio que posso garantir que se trata de uma verdade quase banal: as piadas fornecem simultaneamente um dos melhores retratos dos valores e problemas de uma sociedade, por um lado, e uma coleção de fatos e dados impressionantes para quem quer saber o que é e como funciona uma língua, por outro. Se se quiser descobrir os problemas com os quais uma sociedade se debate, uma coleção de piadas fornecerá excelente pista: sexualidade, etnia/raça e outras diferenças, instituições (igreja, escola, casamento, política), morte, tudo isso está sempre presente nas piadas que circulam anonimamente e que são ouvidas e contadas por todo mundo em todo o mundo. Os antropólogos ainda não prestaram a devida atenção a esse material, que poderia substituir com vantagem muitas entrevistas e pesquisas participantes. Saberemos mais a quantas andam o machismo e o racismo, por exemplo, se pesquisarmos uma coleção de piadas do que qualquer outro corpus.

POSSENTI, S. Ciência Hoje, n. 176, out. 2001 (adaptado).

A piada é um gênero textual que figura entre os mais recorrentes na cultura brasileira, sobretudo na tradição oral. Nessa reflexão, a piada é enfatizada por

sua função humorística.
sua ocorrência universal.
sua diversidade temática.
seu papel como veículo de preconceitos.
seu potencial como objeto de investigação.

128

INF1873

Português

      O filme Menina de ouro conta a história de Maggie Fitzgerald, uma garçonete de 31 anos que vive sozinha em condições humildes e sonha em se tornar uma boxeadora profissional treinada por Frankie Dunn.
      Em uma cena, assim que o treinador atravessa a porta do corredor onde ela se encontra, Maggie o aborda e, a caminho da saída, pergunta a ele se está interessado em treiná-la. Frankie responde: “Eu não treino garotas”. Após essa fala, ele vira as costas e vai embora. Aqui, percebemos, em Frankie, um comportamento ancorado na representação de que boxe é esporte de homem e, em Maggie, a superação da concepção de que os ringues são tradicionalmente masculinos.
      Historicamente construída, a feminilidade dominante atribui a submissão, a fragilidade e a passividade a uma “natureza feminina”. Numa concepção hegemônica dos gêneros, feminilidades e masculinidades encontram-se em extremidades opostas.
       No entanto, algumas mulheres, indiferentes às convenções sociais, sentem-se seduzidas e desafiadas a aderirem à prática das modalidades consideradas masculinas. É o que observamos em Maggie, que se mostra determinada e insiste em seu objetivo de ser treinada por Frankie.

FERNANDES, V; MOURÃO, L. Menina de ouro e a representação de feminilidades plurais.
Movimento, n. 4, out.-dez. 2014 (adaptado).

A inserção da personagem Maggie na prática corporal do boxe indica a possibilidade da construção de uma feminilidade marcada pela
adequação da mulher a uma modalidade esportiva alinhada a seu gênero.
valorização de comportamentos e atitudes normalmente associados à mulher.
transposição de limites impostos à mulher num espaço de predomínio masculino.
aceitação de padrões sociais acerca da participação da mulher nas lutas corporais.
naturalização de barreiras socioculturais responsáveis pela exclusão da mulher no boxe.

129

INF1874

Português

Entrevista com Terezinha Guilhermina

      Terezinha Guilhermina é uma das atletas mais premiadas da história paraolímpica do Brasil e um dos principais nomes do atletismo mundial. Está no Guinness Book de 2013/2014 como a “cega” mais rápida do mundo.
      Observatório: Quais os desafios você teve que superar para se consagrar como atleta profissional?
      Terezinha Guilhermina: Considero a ausência de recursos financeiros, nos três primeiros anos da minha carreira, como meu principal desafio. A falta de um atleta-guia, para me auxiliar nos treinamentos, me obrigava a treinar sozinha e, por não enxergar bem, acabava sofrendo alguns acidentes como trombadas e quedas.
      Observatório: Como está a preparação para os Jogos Paraolímpicos de 2016?
      Terezinha Guilhermina: Estou trabalhando intensamente, com vistas a chegar lá bem melhor do que estive em Londres. E, por isso, posso me dedicar a treinos diários, trabalhos preventivos de lesões e acompanhamento psicológico e nutricional da melhor qualidade.

Revista do Observatório Brasil de Igualdade de Gênero, n. 6, dez. 2014 (adaptado).

O texto permite relacionar uma prática corporal com uma visão ampliada de saúde. O fator que possibilita identificar essa perspectiva é o(a)

aspecto nutricional.
condição financeira.
prevenção de lesões.
treinamento esportivo.
acompanhamento psicológico.

130

INF1875

Educação Física

      É possível considerar as modalidades esportivas coletivas dentro de uma mesma lógica, pois possuem uma estrutura comum: seis princípios operacionais divididos em dois grupos, o ataque e a defesa. Os três princípios operacionais de ataque são: conservação individual e coletiva da bola, progressão da equipe com a posse da bola em direção ao alvo adversário e finalização da jogada, visando a obtenção de ponto. Os três princípios operacionais da defesa são: recuperação da bola, impedimento do avanço da equipe contrária com a posse da bola e proteção do alvo para impedir a finalização da equipe adversária.

DAOLIO, J. Jogos esportivos coletivos: dos princípios operacionais aos gestos técnicos —
modelo pendular a partir das ideias de Claude Bayer. Revista Brasileira
de Ciência e Movimento, out. 2002 (adaptado).

Considerando os princípios expostos no texto, o drible no handebol caracteriza o princípio de

recuperação da bola.
progressão da equipe.
finalizaçãodajogada.
proteção do próprio alvo.
impedimento do avanço adversário.