Na construção da ferrovia Madeira-Mamoré, o
que dizer dos doentes, eternos moribundos a vagar
entre delírios febris, doses de quinino e corredores da
morte? O Hospital da Candelária era santuário e túmulo,
monumento ao progresso científico e preâmbulo da
escuridão. Foi ali, com suas instalações moderníssimas,
que médicos e sanitaristas dirigiram seu combate
aos males tropicais. As maiores vítimas, contudo,
permaneceriam na sombra à margem do palco, cobaias
sem consolo, credores sem nome de uma sociedade que
não lhes concedera tempo algum para ser decifrada.
FOOT HARDMAN, F. Trem fantasma: modernidade na selva.
São Paulo: Cia. das Letras, 1988 (adaptado).
No texto, há uma crítica ao modo de ocupação do espaço
amazônico pautada na
Eu estava pagando o sapateiro e conversando com
um preto que estava lendo um jornal. Ele estava revoltado
com um guarda civil que espancou um preto e amarrou
numa árvore. O guarda civil é branco. E há certos brancos
que transforma preto em bode expiatório. Quem sabe se
guarda civil ignora que já foi extinta a escravidão e ainda
estamos no regime da chibata?
JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.
O texto, que guarda a grafia original da autora, expõe
uma característica da sociedade brasileira, que é o(a):
Sempre que a relevância do discurso entra em jogo, a questão torna-se política por definição, pois é o discurso que faz do homem um ser político. E tudo que os homens fazem, sabem ou experimentam só tem sentido na medida em que pode ser discutido. Haverá, talvez, verdades que ficam além da linguagem e que podem ser de grande relevância para o homem no singular, isto é, para o homem que, seja o que for, não é um ser político. Mas homens no plural, isto é, os homens que vivem e se movem e agem neste mundo, só podem experimentar o significado das coisas por poderem falar e ser inteligíveis entre si e consigo mesmos.
ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
No trecho, a filósofa Hannah Arendt mostra a importância da linguagem no processo de
Espere, resignado, o dia 13 daquele mês porque, em tal data, usança avoenga lhe faculta sondar o futuro interrogando a providência. É a experiência tradicional de Santa Luzia. No dia 12 ao anoitecer expõe ao relento, em linha, seis pedrinhas de sal, que representam, em ordem sucessiva da esquerda para a direita, os seis meses vindouros de janeiro a junho. Ao alvorecer de 13 observa-as: se estão intactas, pressagiam a seca; se a primeira apenas se deliu, transmudada em aljôfar límpido, é certa a chuva em janeiro; se a segunda, em fevereiro; se a maioria ou todas, é inevitável o inverno benfazejo. Esta experiência é belíssima.
CUNHA, E. Os sertões. São Paulo: Editora Três, 1984.
No experimento descrito, a relação com a paisagem e com a religiosidade permite que o sertanejo seja