O complexo de falar difícil
O que importa realmente é que o(a) detentor(a)
do notável saber jurídico saiba quando e como deve
fazer uso desse português versão 2.0, até porque não
tem necessidade de alguém entrar numa padaria de
manhã com aquela cara de sono falando o seguinte:
“Por obséquio, Vossa Senhoria teria a hipotética
possibilidade de estabelecer com minha pessoa uma
relação de compra e venda, mediante as imposições
dos códigos Civil e do Consumidor, para que seja
possível a obtenção de 10 pãezinhos em temperatura
estável para que a relação pecuniária no valor de
R$ 5,00 seja plenamente legítima e capaz de saciar
minha fome matinal?”
O problema é que temos uma cultura de valorizar
quem demonstra ser inteligente ao invés de valorizar quem
é. Pela nossa lógica, todo mundo que fala difícil tende a
ser mais inteligente do que quem valoriza o simples, e
99,9% das pessoas que estivessem na padaria iriam ficar
boquiabertas se alguém fizesse uso das palavras que
eu disse acima em plenas 7 da manhã em vez de dizer:
“Bom dia! O senhor poderia me vender cinco reais de pão
francês?”.
Agora entramos na parte interessante: o que
realmente é falar difícil? Simplesmente fazer uso de
palavras que a maioria não faz ideia do que seja é um
ato de falar difícil? Eu penso que não, mas é assim que
muita gente age. Falar difícil é fazer uso do simples,
mas com coerência e coesão, deixar tudo amarradinho
gramaticalmente falando. Falar difícil pode fazer alguém
parecer inteligente, mas não por muito tempo. É claro que
em alguns momentos não temos como fugir do português
rebuscado, do juridiquês propriamente dito, como no
caso de documentos jurídicos, entre outros.
ARAÚJO, H. Disponível em: www.diariojurista.com. Acesso em: 20 nov. 2021 (adaptado).
Nesse artigo de opinião, ao fazer uso de uma fala
rebuscada no exemplo da compra do pão, o autor
evidencia a importância de(a)