A partida de trem
Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou
o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de
Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da
filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida
e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía
a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma
boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas
que importa? Chega-se a um certo ponto — e o que foi
não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não
pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha
que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a
subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela
se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em
movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava
que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de
costas para o caminho.
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:
— A senhora deseja trocar de lugar comigo?
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza,
disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo.
Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou
a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a
Angela Pralini:
— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar
de lugar?
Para continuar respondendo questões, você precisa fazer login na plataforma!